Diferimento de Pastagens: Estratégia para seca no cerrado
Por José Pinsetta Júnior
Engenheiro Agrônomo
A necessidade de alternativas relacionadas ao fornecimento de volumoso para animais criados a pasto, no período seco do ano, é uma realidade dos pecuaristas na região do cerrado brasileiro. Existem opções, como o uso de forragens conservadas, feno, ou mesmo redução da taxa de lotação da área.
Pastejo Diferido
Uma opção para contornar a falta de forragem na época seca do ano é o uso do diferimento de pastagens. Sua utilização é recomendada para sistemas de produção com até 1,5 UA/ha/ano e se destaca pelo custo de produção bastante reduzido quando se compara com a produção de silagem, onde se faz investimento em máquinas, silos, etc.
Desta forma, o diferimento de pastagens trata-se de reservar uma área de pastagem na fazenda, no final do período das águas, formando assim, um estoque de forrageira para utilização na época seca. O diferimento de pastagens é também chamado de vedação de pastagem, feno em pé ou pastejo protelado.
O sucesso na utilização do pastejo diferido vai depender de fatores como formação de massa forrageira residual a partir da vedação; acúmulo de forrageira ao longo do período de vedação; do valor alimentar da forragem quando for utilizada e menor perda por acamamento quando os animais entrarem na área para pastejo.
Sistema de Pastejo Diferido
É esperado que durante a vedação da pastagem, consiga-se acumular pelo menos 2,5 t/ha de massa seca de forragem, quantidade que é considerada mínima para a viabilidade do sistema de pastejo diferido.
Quanto à escolha das plantas forrageiras para o diferimento de pastagens, as espécies mais recomendadas são aquelas com maior relação folha/haste, como as Braquiárias e Cynodons. Plantas que formam touceiras como Andropógon e cultivares de Panicum maximum, são menos indicadas para o pastejo diferido pois possuem alta proporção de hastes quando colocadas por períodos longos de crescimento.
Estratégias e ações de manejo
No entanto, em casos onde estas forrageiras sejam a única opção na propriedade, pode-se tomar algumas medidas para viabilizar o diferimento, como rebaixar o pasto no momento da vedação da área e reduzir o período de vedação da pastagem. Neste caso, recomenda-se não ultrapassar 70 dias.
Para determinar a época de vedação da pastagem, deve-se considerar características de clima e solo da fazenda e da planta forrageira que será utilizada para o pastejo diferido. O período de vedação e utilização da área devem ser escolhidos com o objetivo principal de se ter o maior acúmulo de forragem com qualidade adequada. Se a época de vedação é antecipada demais, ocorre uma redução muito grande no período de utilização da área vedada durante o período das águas. No entanto, caso for feita a vedação de forma tardia, corre-se o risco de não acumular forragem suficientemente.
De maneira geral, uma regra prática é adotar a vedação da pastagem cerca de 30 a 40 dias antes da ocorrência de fatores climáticos limitantes ao crescimento da planta, como ocorrência de frio intenso ou seca.
Para as condições do cerrado brasileiro, a melhor opção para o diferimento é escaloná-lo, ou seja, fazer a vedação de 1/3 da área no mês de fevereiro e os outros 2/3 no mês de março. A utilização se dará na primeira metade do período seco (junho/julho) e já as áreas vedadas em março poderão ser utilizadas de julho a setembro. O período de vedação fica em torno de 90 a 150 dias.
Quanto a escolha da área de pastagem a ser vedada, quanto menor ela for, melhor é o diferimento, devido ao seguintes fatores:
- há flexibilização no manejo das áreas da fazenda;
- risco de superpastejo na área não vedada é menor, ficando menos sujeito a prejuízos na capacidade de suporte da área;
- Possibilidade de manter maiores taxas de lotação animal na fazenda, sendo reflexo direto da menor necessidade de área de pasto a ser vedada, em consequência da maior taxa de lotação animal nas áreas de pastagem não diferidas e vedadas.
Como regra geral, recomenda-se que de 30 a 40% da área de pasto da propriedade seja utilizada para vedação. A área pode ser menor em situações em que se utilize adubação nitrogenada no momento da vedação.
A adoção do diferimento de pastagem, em razão de aumentar a massa de forragem disponível no período seco do ano, permite que sejam adotadas práticas como o uso de suplementos energéticos e protéicos para o animais, o que leva a benefícios ainda maiores para o sistema de produção, como maior ganho de peso dos animais.
A suplementação no período seco é recomendada para uma melhor nutrição do animal em pastejo. Observa-se uma manutenção no peso dos animais ou até o ganho de peso em pequena escala quando se utilizam sais proteinados ou misturas em conjunto com o pastejo diferido.
Portanto, a utilização de passagens diferidas é uma opção viável para reduzir os efeitos da queda na produção de forragem que ocorre no período seco do ano. É um sistema que se adequa bem às fazendas de produção de bovinos de corte, onde as taxas de lotação sejam menores que 1,5 U.A/ha.