Adubação Verde - O que é, e para o que serve?
Por Wellington Bernardes
Engenheiro Agrônomo
Definida como prática na qual plantas atuam como ferramentas para melhorar as qualidades químicas e físicas do solo, a adubação verde ganha cada vez mais adeptos por sua praticidade e retorno financeiro.
Existem diversas espécies que podem ser utilizadas no campo como adubo verde, que variam conforme a atividade econômica do produtor rural. A versatilidade deste tipo de adubação permite a implementação da prática em quase todos os sistemas de produção agrícola.
Abaixo, vamos detalhar sobre as vantagens e desvantagens da adubação verde no ambiente agrícola.
Como funciona a adubação verde?
Geralmente são utilizadas plantas leguminosas para a adubação verde, justamente por serem fixadoras de nitrogênio, possibilitando assim o retorno deste nutriente ao solo.
Dependendo da finalidade da produção, a produção de massa verde da cultura ou seu teor nutricional, são benefícios em paralelo para o produtor.
Várias leguminosas podem ser utilizadas para a adubação verde, como:
- Crotalária;
- Feijão-guandu;
- Nabo forrageiro;
- Feijão de Porco;
- Lab Lab;
- Estilosante Campo Grande;
- Mucuna;
- Calopogônio;
- Soja Perene;
- Leucena.
Vantagens
Fertilidade do solo
Incorporação de nitrogênio
Nas raízes de plantas leguminosas existem nódulos onde ficam as bactérias fixadoras de nitrogênio. Estes microrganismos são capazes de captar o nitrogênio da atmosfera e fixá-lo, transferindo assim para as plantas. Por esta razão, leguminosas apresentam elevados teores deste elemento na parte área.
Quando estas são incorporadas ao solo ou utilizadas como cobertura, o nitrogênio é incorporado ao solo. É importante ressaltar que o nitrogênio atua no desenvolvimento celular, sendo um dos maiores responsáveis pelo crescimento vegetal das plantas.
A disponibilidade deste nutriente no solo é fundamental para o sucesso de qualquer cultura agrícola. Sua presença no solo também representa menores necessidades de adubação química, reduzindo o custo de implantação e manutenção da cultura sucessora.
Reciclagem de nutrientes
Quando são utilizadas espécies com elevado potencial de desenvolvimento e penetração de raízes, nutrientes presentes em camadas mais profundas do solo acabam sendo absorvidas por estes adubos verdes, porém alguns destes materiais não fixam o nitrogênio no solo, este é o caso do Nabo Forrageiro e do Girassol, por exemplo, este último inclusive não é considerado uma leguminosa.
Tais nutrientes são liberados para as camadas mais superficiais do solo durante a decomposição destas plantas, ficando disponíveis novamente para as culturas subsequentes.
Física do solo
Controle de erosão
Responsável por reduzir a produtividade, a erosão pode ser controlada através da adubação verde. A cobertura vegetal destas leguminosas reduz a exposição do solo às intempéries climáticas, como fortes ventos e chuvas.
Esta cobertura também pode reduzir a perda de água no solo nas camadas superficiais. Com o desenvolvimento de raízes e rizomas ao longo do ciclo das leguminosas, a compactação de solos é reduzida.
Aumento da matéria orgânica
A adubação verde aumenta a matéria orgânica do solo, refletindo positivamente em suas propriedades físicas. Com este aumento, temos melhorias em:
- Estabilidade de agregados;
- Densidade do solo;
- Infiltração e retenção de água.
Controle de doenças
Como as leguminosas utilizadas na adubação verde não são da mesma espécie da cultura de interesse, sua implantação auxilia na redução de populações de pragas agrícolas.
As crotalárias são utilizadas com sucesso para controlar a incidência de nematoides no campo. A Crotalaria spectabilis, por exemplo, é utilizada para alguns nematóides, como o Meloidogyne javanica e o Pratylenchus brachyurus.
Controle de plantas daninhas
A utilização do adubo verde como cobertura do solo reduz a população de plantas daninhas no campo, pelo bloqueio da luz solar e também por ser uma barreira física. Leguminosas muito utilizadas para este fim são o Feijão de Porco e as Mucunas.
Pontos a considerar
Ocupação de área
Apesar desta vasta lista de fatores positivos obtidos com a adubação verde, existem alguns pontos negativos quando o agricultor decide adotar esta prática. O principal ponto a ser considerado é que a leguminosa irá ocupar uma área que poderia ser utilizada para uma cultura de interesse econômico.
Uma alternativa adotada para minimizar esta ocupação é o plantio destas leguminosas em glebas, utilizando o sistema de rotação de cultura nestas áreas. Outra solução é o uso do sistema de plantio direto, no qual o plantio da cultura de interesse acontecerá na palhada formada pela leguminosa.
Baixa produção de matéria vegetal
Quando a adubação verde é implantada em períodos de estiagem, a produção de matéria vegetal será menor, reduzindo a eficiência do sistema.
Geralmente a semeadura destas leguminosas acontece de fevereiro a abril. Este cultivo é utilizado para proteger áreas ainda não cultivadas, devido a época do ano, e garantem redução da população de plantas invasoras.
Para a região Sul do Brasil, é possível plantar espécies de leguminosas que toleram baixas temperaturas, como a ervilhaca, os trevos e os tremoços. No Sudeste estas espécies apresentam bom desenvolvimento em plantio durante o período de estiagem, porém com atenção para não realizar o plantio tardio, pela sensibilidade das leguminosas ao fotoperíodo.
O custo é uma desvantagem?
O custo de implantação de leguminosas no campo pode ser um entrave para alguns agricultores. Porém deve-se levar em conta os benefícios econômicos e ao meio ambiente que esta prática traz.
Como vimos acima, existem diversos benefícios na utilização da adubação verde no ambiente agrícola. Com planejamento, visão a longo prazo e pesquisa por melhores preços de sementes, é possível sim tornar o custo da adubação verde viável, independente do tamanho da propriedade.