Sobressemeadura de Capim Mombaça, adeus Ruziziensis!

11/10/2017 12:56

Um dos principais desafios para a criação de gado a pasto é a dificuldade de se produzir forragem de qualidade na época seca do ano. Isto se deve ao fato de termos um período de reduzido volume de chuvas e temperaturas baixas que prejudicam o crescimento das forrageiras. Os sistemas de sobressemeadura são, neste caso, alternativas para melhorar a produção de forragem na época do ano em que ocorre maior escassez.

Sistema de ILP São Francisco

Sistema São Francisco é uma variação do Sistema de Integração Lavoura Pecuária (ILP), que tem por objetivo a sobressemeadura de capim Panicum maximum cv. Mombaça, de porte alto, sobre a cultura da soja ou milho no final do período das águas. Este sistema tem a vantagem de fornecer alimento para o gado durante o período seco do ano, época em que a oferta de forragem é reduzida. Além disso, possibilita a formação de palhada de qualidade no solo para sistema de plantio direto.

Este sistema foi criado a partir do Sistema Santa Fé, que visa a intensificação da produção nas áreas da região do Cerrado. O objetivo é reduzir custos de produção pelo aumento da produtividade na área. É feito um aproveitamento durante o ano todo da área com lavoura de grãos na safra principal e produção de bovinos na entressafra.

Os dois sistemas tem a mesma finalidade: melhorar as condições do solo e fornecer palhada para o sistema de plantio direto. Ainda oferecem a vantagem de na mesma área conseguir diversificar a atividade agrícola por meio da pecuária e garantir uma produção o ano todo. Ainda possui baixo custo de implantação, não requerendo grandes investimentos em equipamentos.

O consórcio da lavoura com a pecuária é feito a cada ano, sendo realizado inicialmente o plantio da cultura anual (milho ou soja, por exemplo) e ao final do ciclo da cultura é realizada a sobressemeadura com o capim Mombaça.

Um modelo comum de utilização do sistema São Francisco é com o plantio da soja no início de outubro, mês que coincide com o período das chuvas. Cerca de 3 meses após o plantio da soja, quando ela atingir o estádio reprodutivo R6 a R7, momento em que as folhas começam a ficar de cor dourada, é realizada a sobressemeadura, o que ocorre no mês de janeiro.

Pouco tempo depois, no início de fevereiro, é feita a colheita da soja. Nos meses de abril/maio podem ser colhidas sementes de Mombaça e, em seguida, colocar os animais para pastejo. A taxa de semeadura utilizada fica na faixa de 3 a 3,5 kg de sementes puras viáveis/ha. Com esse valor, tem-se obtido uma boa população de plantas, tanto para pastejo, quanto para formação de palhada.

A sobressemeadura pode ser aérea, feita com aviões agrícolas. Ela confere economia de tempo e maior precisão no lançamento das sementes a um custo razoável. Outra opção é a sobressemeadura com motossemeadora, desenvolvida pela Embrapa, que pode ser acoplada a motocicletas e tratores. Conta com tanques de diferentes tamanhos, permitindo fazer a operação a baixo custo. Uma terceira opção é a adaptação de equipamentos pulverizadores  disponíveis na propriedade e que possibilitam a realização da sobressemeadura.

Pastagem Mombaça

Vantagens do Capim Mombaça sobre o Capim Ruziziensis

A produção de Mombaça, em média, é de 5 toneladas de matéria seca/ha, valor considerado bastante satisfatório para o período de maio a junho. Este valor representa cerca de 50 a 60 % de produção a mais do que a Ruziziensis, que é a forrageira mais utilizada no Sistema Santa Fé. Além disso, o capim Mombaça apresenta boas características como:

  • digestibilidade em torno de 50%: o animal consegue digerir muito bem esta forragem;
  • teores de proteína bruta em torno de 10-11%;
  • ótima quantidade de fibras.

Outra vantagem é que a Mombaça demora mais para se decompor no solo devido a seu elevado teor de fibras, permitindo uma cobertura do solo por mais tempo. Outra diferença no uso das duas forrageiras é no gasto de herbicida para dessecação. A Mombaça gasta cerca de 1,5 L a mais do que a Ruziziensis; porém, este gasto é compensando pela produção de massa fresca muito maior proporcionada pela Mombaça.

No que se refere a taxa de lotação, podem ser colocados de 2 a 3 UA/ha. Em períodos curtos e com suplementação, algumas propriedades tem usado até 6 UA/ha para bovinos em terminação. Os animais tem apresentado ganhos de 600 a 1,5 kg/ha/dia.

Manejo da Pastagem

A pastagem deve ser manejada de tal forma a evitar o pastejo excessivo das touceiras, deixando uma quantidade adequada de folhagem final para que se consiga formar uma palhada de qualidade, para o plantio direto subsequente.

De outra forma, não se pode deixar ocorrer o subpastejo, que corresponde a manter uma quantidade de animais inferior ao potencial de fornecimento de forragem pela pastagem (UA/ha), resultando em sobra de pasto. Esta prática pode levar ao “entouceiramento” do capim, dificultando o plantio da cultura agrícola no próximo ciclo.

A partir do exposto, o pecuarista deve considerar a utilização do Sistema São Francisco como forma de intensificar a produção animal por hectare na época em que há menor disponibilidade de forragem. O capim Mombaça tem excelente qualidade nutricional e ótima produção de matéria seca, apresentando melhor resultado que o capim Ruziziensis.

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